segunda-feira, 26 de maio de 2014

Trigonometria

Costurados à mão
sob a anca de tesouras firmes
os corpos eram o caule
amarrado à fortes nós
como aqueles de marinheiro.
O bailado das ondas gingava
feito canção pra ninar
os poetas.
Os pés se foram
pela curva
na virada tinha um riacho
um sentimento saindo dos eixos
apertando a boca do estômago
causando redemoinho do ventre
aos fios de cabelo.
Dentes rangendo
a vontade de ser vampiro
tomado pelas rédeas violentas
que escapavam das laterais
dois potros
indomáveis
à beira do acústico
da orquestra desmontada
pra ter certeza de que
o melhor som é aquele
que crava marcas no pescoço!

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Como sobreviver ao encanto

Guardei as víboras do meu olhar
em uma caixa de embrulho
e te dei de presente.

Acostume-se aos novos ares
.
A fragância do instante
vai empestiar a todos
os desconhecidos.
Eles sentirão o sobressalto
mas será impossível
traduzir os espectros.

O cheiro do sexo embriagado
nos cachos do cabelo
vai atrair abelhas perdidas;

você não deve se preocupar.

Até quem sabe averiguar os segredos
vai perceber que eu estou mais
destilada que nunca.

É recomendável uma certa discrição
no uso das cores quentes:
os viciados no canal de metereologia
vão notar o verão bronzeado
em nossos sorrisos.

Os dias continuam
seu giro imperturbável
e a playlist de música vai se arrastar
até muito depois das horas de sono.

Vamos sair de casa sem atraso,
seguindo pela rua Camerino
a passos mais rápidos
que os motoristas dos carros.

Um dois três beijos
garantem a leveza do trajeto.

A cidade,
cenário sonoro do encantamento,
permanece intacta.

A paixão fincou
os dois pés firmes
nas pedras

sem nota de garantia
ou prazo de validade.